"Marcio é maravilhoso

Marcio é divino

Marcio é moço fino

Rufino é homem com olhar de menino

Marcio é decidido

Marcio é mestre, brilha no ensino

Marcio é guerreiro...

E nesse Emaranhado Rufiniano, quero me emaranhar."

(Camila Senna)















quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Poesia na calçada




No dia 24/09/2010 a Gambiarra Profana promoveu o primeiro Poesia na Calçada no bairro de Nova Aurora em Belford Roxo,RJ. Onde contou com a participação de Fabiano Soares da Silva, GabrielaBoechat, Lenne Butterfly, Arnoldo Pimentel, Márcio Rufino, Cláudia "A Paulistinha", Bom Cabelo, Agnaldo Estrela, Rafael Polemiko Garcia, Lola,
Rosilene Ramos, Marcelo Muniz Machado, Craken Icarus, Léo do Pelô, Vinicius
Siqueira e Sergio-SalleS-oigerS.

Este vídeo mostra alguns momentos deste encontro de poetas tendo como tema musical Sérgio Sampaio com sua "Cada lugar na sua coisa".

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A mulher de hoje em dia

Traição: Enganar perfidamente, atraiçoar/ Faltar ao cumprimento de/ Revelar/ Deformar, não traduzir com fidelidade/Não ajudar, abandonar/Denunciar-se por imprudência: comprometer-se; desnudar o pensamento.

A lua estava deslumbrantemente linda naquela madrugada de segunda para terça, quando eu e meu amigo, o poeta e sociólogo Henrique Souza saímos do Sport Club Iguaçu na festa de aniversário do cantor e compositor Daniel Guerra e caminhamos até o centro de Nova Iguaçu. Quando chegamos na Otávio Tarquínio, Henrique tomou seu rumo e eu segui o meu olhando para a lua cheia, imponente, inteira, poderosa, resplandecente; luzindo na escuridão enigmática do firmamento. Hipnotizado como eu estava por aquela lua, se viesse um ladrão me roubar eu nem me daria à mínima conta disso. Mas a baixada, graças à Deus, ainda é um pedacinho de Rio de Janeiro onde ainda se pode respirar um mínimo de liberdade ingênua no caos urbano do cotidiano.

Quando cheguei ao ponto para pegar a kombi que me levaria à Belford Roxo, vi parado ali um lindo casal de jovens negros abraçados se beijando apaixonadamente. Seus braços, lábios e coxas se articulavam e interagiam de forma tão harmoniosa que pareciam querer fundir-los em um só como numa experimentação alquímica. Para uma madrugada sedutoramente enluarada como aquela, não poderia existir cena que viesse a calhar melhor.

- Que horas você vai ligar pro meu celular? – Perguntou ela num frenesi.

- Lá pra de tarde! – Respondeu ele num sorriso sem-vergonha de sátiro do bosque.

Enfim a kombi chegou. Como o casal demorava a se entreter no sensual entrelace, tomei a liberdade de ser o primeiro a entrar. Alguns sedentos e calientes minutos de pegação depois, a moça se despediu do rapaz entrou na kombi e sentou-se completamente relaxada na poltrona a meu lado.

- Ai, meu Deus! Quando eu chegar em casa meu marido vai me matar! – Disse ela num sorriso puro de menina sapeca.

Eis que surgiu em mim um sutil choque.

- Ah! Você diz à ele que estava fazendo serão até mais tarde! – Respondi cínico.

- Mas eu não trabalho não, moço! – Respondeu-me num ar escorregadio. – Tô na rua desde às 18:00. Tô aqui só imaginando a cara dele quando chegou em casa e viu as crianças sozinhas sem eu lá.

Quase que eu gritei: ”sua sem-vergonha, vagabunda. Você não tem vergonha na cara sua cachorra?”.

- Hoje em dia o homem aceita tudo de uma mulher bonita como você! – Acabei falando amigavelmente.

- Que nada! Quando eu chegar lá em casa vou encontrar minhas coisas na calçada. Aliás... As minhas não... As dele... O quintal é meu!

Quando a kombi chegou no bairro Heliópolis ela pediu para o motorista parar no próximo ponto. Chegando lá.

- Tchau, moço!

-Tchau, gata!

E ela desembarcou, atravessou a rua e seguiu adiante levando consigo, como um anjo que leva sua auréola, aquela bela, rechonchuda e iluminadíssima lua cheia daquela arrebatadora madrugada.

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sábado, 18 de setembro de 2010

Homenagem da bela poeta Camila Senna




Essa é uma singela homenagem de uma querida amiga e poeta, integrante do grupo Pó de Poesia Camila Senna. É isso que nos faz ter orgulho de ser poeta, além de, é claro, saber que nossa poesia chega nos corações das pessoas. À minha amada amiga Camila, meu eterno e comovidíssimo muito obrigado:

O Poeta Divino Marcio Rufino

Escrevi esse poema para meu amigo Márcio.
Que brilha como o sol...
Que rima com um verso...

Talentoso é esse menino, o Poeta Márcio Rufino...

Cativo das letras e dos livros...
Como é audaz Márcio Rufino, que é poeta desde menino.

Autor de valor...
Todos deveriam ler.
Os poemas que ele escreve nunca mais irão esquecer...
Porque ele é poeta de verdade e merece aparecer.
Não para se engrandecer, mas para sua obra e sua alma
mais nobre ainda ser...

Talentoso é esse menino o Poeta Divino Márcio Rufino.


Camila Senna

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Marcio Rufino interpreta Tayguara

Gambiarra Profana apresenta um ligeiro momento de pagação de mico num sábado de início de primavera à noite num bairro qualquer da Baixada Fluminense do poeta que vos escreve:

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Sergio e Maria Rita

Casal sm 1. Par composto de macho e fêmea, ou homem e mulher. 2. Par formado para a dança.



Sérgio tinha 27 anos e Maria Rita 13 quando se casaram. Os dois estavam prometidos um ao outro desde o nascimento de Maria Rita. Ela, ingênua, sem fazer idéia do que aconteceria, chegava até a pedir a benção ao belo rapaz negro quando era menina. Qual não foi o tamanho do susto quando ela, também negra, soube do casório programado para o dia seguinte. Mas como casal é a afirmação de uma aventura insólita no absurdo involuntário do desejo e da paixão que transcende até as diferenças de sexo, ela - com pavor, curiosidade, interesse, vergonha, medo e ímpeto - não teve outro remédio senão aceitar.


Casaram, vieram os filhos; os cinco primeiros morreram de febre amarela, mas depois vieram mais doze. Desses seis também morreram. Vingaram seis. Depois de morarem em alguns lugares, compraram um terreno enorme com uma bela casinha e ali plantaram várias frutas, legumes, verduras e cultivaram várias plantas e ervas para chás, enfim, cumpriram o papel, a função primitiva dos pares que procriam, que geram, que semeiam. Sérgio foi trabalhar na Companhia das Águas e Maria Rita foi lavar e passar roupa para fora para pagarem o terreno. Os filhos cresceram e casaram. As festas, os perus e leitões assados, as bebidas, o som do calango tocando a noite inteira. Era um casal muito festeiro, que sabia celebrar a vida com os parentes e amigos.


Quando nasciam os netos, a própria Maria Rita era quem fazia os partos e cuidava de perto dos resguardos das filhas e das noras e dos umbigos dos bebês. Com seus mistérios sabia calcular o dia e a hora em que os bebês foram concebidos. Mas nem tudo foram flores. Sérgio tratou de honrar a tradicional, cultural e imatura macheza ao arrumar uma amante entre as vizinhas amigas da esposa, freqüentadoras das festas em sua casa. Seu nome era Laura e ela se encontrava furtivamente com Sérgio perto da estação de trem. Maria Rita suportou tudo calada, mantendo a dignidade de uma dama do lar, de uma matrona austera em sua indignação. Só que Laura adoeceu fatalmente e vendo em sua doença um castigo, agonizou aos gritos em sua casa, pedindo, implorando o perdão de Maria Rita. Esta, cristã, perdoou em oração a rival que pôde se despedir deste mundo em paz.


As coisas não iam muito bem para Sérgio. Já idoso parecia estar variando da mente. Depois de uma violenta discussão, bateu em Maria Rita. O netinho João Renato ao ver tudo começou a berrar. Sérgio se irritou e voou no pescoço do menino tentando estrangulá-lo. Maria Rita tentava salvar o neto das garras do insano avô e só conseguiu depois de acertar a cabeça do marido com um pedaço de pau. Internam Sérgio numa clínica. Lá levam frutas e biscoitos que ele se nega a dividir com os companheiros de quarto. Estes, para se vingarem, numa noite cegam os olhos de Sérgio com um estilete. Daí Sérgio vai definhando até morrer.


No dia do enterro, quando chega em casa, Maria Rita vê Sérgio olhando-a debaixo da mangueira do quintal. O fato se repete na missa de sétimo dia. A viúva vai até o centro espírita do médium Zé Moreno e lá fica constatado que Sérgio, antes de adoecer, enterrava uma caixa de dinheiro que vinha economizando à sombra da mangueira do quintal da casa. Só depois que Maria Rita desenterrou a caixa de dinheiro que ela nunca mais viu o finado marido em toda sua vida que também se findou vinte anos depois.


Sérgio e Maria Rita formaram par para dançar a estranha e louca dança da vida. A dança cujo os passos não se aprende. Eles surgem e seguem por si só, involuntários, efêmeros, inesperados. Às vezes tropeçando em uns, jogando outros para fora do salão. Dança em que não se sabe quem dança bem ou dança mal. Apenas se dança, já que não há como não se puxar ou ser puxado para dançar; pois estamos todos juntos nesse embalo frenético e cíclico da condição humana onde você não dança com o que tem, mas com o que pode. Eu sou uma das coisas que resultou dessa dança. Pois Sérgio e Maria Rita, meus queridos leitores, eram meus bisavós.


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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Homenagem dos alunos de Gabriela Boechat




Semana passada fui a uma escola municipal em Mesquita visitar os pequeninos alunos da professora e artista plástica Gabriela Boechat. O encontro foi muito agradável. Conversamos sobre literatura e poesia no que resultou em algumas oficinas de contação de história e neste belíssimo poema coletivo que eu criei com as crianças.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Lançamento da 7ª edição do fanzine Gambiarra Profana

Lançamento da sétima edição do fanzine do grupo de poesia do artista multimídia Sergio Salles-Oigers Gambiarra Profana. Com poetas da baixada fluminense.


domingo, 11 de julho de 2010

O Amor Anormal


Sentir o proibido não é nada
Pior é aceitar o proibido
Num rumo qualquer de estrada
Ou na dolorosa manha da libido.

O outro não quer minha atormentada insônia
Muito menos que eu mude meu misterioso hábito
Só quer sentir o sufoco e o cheiro de sua agonia
Dentro do denso aroma que sai de dentro do meu hálito.

Não é nada atender o desejo do outro
Pior é fazer com que esse desejo seja também seu
E ver dentro da lama do outro o ouro
Acreditando que o calvário é um doce himeneu.

Entregar-se à perversão passiva
É muito difícil como cômoda intolerância
Que revertida em condição da vida
Brota em nosso peito uma vacância.

Da janela da minha casa
O vento me beija numa linha retílinia
Mas vejam: estou sem graça.
Lembrei-me que esta casa não é minha.

Olhe só toda a beleza
Que a morte desta tarde nos oferece
E preste atenção em toda destreza
De me encantar com seus olhos de quem não me conhece.

O futuro me assusta muito
Com a ajuda do tempo me agride
Com ameaças de sérios infortúnios
Onde o chão sob meus pés resiste.

O outro também quer me dominar
Como o futuro e o tempo ele também é assim
Com frieza e crueldade quer me usar
Sem saber que também será vilipendiado por mim.

Com seu cinismo ele comanda a brisa louca
Transforma nosso encontro num fato casual
Ele quer sentir o odor de seu sêmen em minha boca
Mas isso são sonhos imundos que povoam minha cama de casal.

Em seu feitiço ele busca uma corda de banjo
Em seu silêncio ele busca um bocal de clarineta
Pares de asas vermelhas de anjo
Pares de chifres brancos de capeta.

O outro sou eu num idílio híbrido
o outro somos nós num dilacerado momento.
Que desenha o amor anormal e ilícito
Num papel invisível rasgado pelo vento.

Esse amor que por se ousar existir
Subvive a margem do planeta
Prestes a se deixar cair
E ser amparado por um rabo de cometa.

Não sei o porquê de todo esse desprezo
Se tudo que aí está é amor
Queria falar de todo o meu desejo
Sem causar deboche nem horror.

Pois o outro me reconhece como um mero conhecido
Me cumprimenta como um qualquer que por acaso me vê
Conversa comigo como um velho e intímo amigo
E pede meus carinhos com a carência e dengo de um bebê.

Dedico esse texto a memória de Clarice
E continuo sufocando a minha agressividade
Pois a anormalidade me disse
Que o amor e a arte é que salvarão a humanidade.

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terça-feira, 6 de julho de 2010

Cidade Atravessa e resenha de Paulo Scott





Julho passado foi a quarta edição do sarau cidade atravessa na Livraria da Travessa no Centro do Rio acima a foto antológica do encontro. À seguir uma brevíssima e brilhante resenha do meu amigo Paulo Scott para o meu livro Doces Versos da Paixão:


sobre o seu livro, li e reli

é uma poesia bela e cheia de dor

gosto de textos sinceros

o uso de clichês e ecos (com muitas rimas sem métrica), algumas vezes funciona, outras vezes não, mas o resultado, talvez pela carga de lamento e esperança, oferece ao leitor um resultado agradável

abração

paulo scott

domingo, 30 de maio de 2010

O poeta Arnoldo Pimentel lança seu livro "Ventos na Primavera" no CCDonana.


Poetas na penumbra: Dida Nascimento, Fabiano Soares da Silva, Rodrigo Souza, Sergio Salles-Oigers, Arnoldo Pimentel, Henrique Souza, Vicente Freire, o poeta que vos escreve e Rômulo Pimentel.



Eu fui o mestre de cerimônias do evento.



Os integrantes do Pó de Poesia: Jorge Medeiros, Ivone Landim, Felipe Mendonça e o poeta que vos escreve.



O poeta Arnoldo Pimentel autografando seu livro "Ventos na Primavera".


Há dois anos atrás fundei com a poeta, professora de Literatura, arteterapeuta e ativista cultural Ivone Landim, o poeta, cantor, compositor e artista plástico Dida Nascimento,o poeta e orientador educacional Jorge Medeiros, entre outros poetas da baixada fluminense o grupo Pó de Poesia que de lá para cá vem realizando performances e leituras em bares, universidades, centros culturais, entre outros pontos alternativos do Rio de Janeiro. No dia 29 de maio de 2010, o grupo comemorou o lançamento do livro "Ventos na Primavera" do poeta belforroxense membro do grupo Arnoldo Pimentel. Editado pelo grupo Gambiarra Profana em parceria com a Folha Cultural Pataxó, o livro foi confeccionado de forma elegantemente artesanal e tem participação afetiva de poetas integrantes do Pó de Poesia e do Gambiarra Profana como o poeta que vos escreve, Ivone Landim, Sergio Salles-Oigers, Fabiano Soares da Silva, entre outros. O evento foi um sucesso e também contou com uma mostra de cinema do grupo CineRock e uma bela exposição de quadros da artista plástica Gabriela Boechat.

Leia o poema que dá título ao livro:

Ventos na Primavera

Olhei através
Da cerca de arame
E vi que no seu quintal
Brilha o sol
Que brilha no meu quintal

Um sol de igualdade
Apesar dos ventos
Apesar da sorte
Em saber amar
Através do olhar

Espero colher frutas
E repartir
Sentir as flores
E sorrir
No meu lado da terra

Espero colher na primavera
A semente que plantei
Através do olhar no arame
E sentir que o sol é o mesmo
Se o inverno passar

Arnoldo Pimentel



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Faltou Luz

Faltou luz na rua.
Estou na escuridão.
Estou nas trevas.
Estou no vácuo.
Refletindo o que me resta.
Que uma só estrela
não ilumina toda a terra.
Ouço vozes.
Vejo vultos.
Sinto pessoas.
Reclamando
cantando
conversando
xingando.
Busco um sentido.
Procuro um sentimento.
Viro um nó cego
na garganta do mundo
que me move parado no breu
e se divide
entre o medo e a volúpia
o receio e a malícia
o pavor e a luxúria
o terror e a cobiça.
O quero eu desse lugar?
O que quero eu de mim?
Porque permito que o que eu não quero
venha me humilhar
e rebaixar toda a idéia e vida
parida em fim?
Cada coisa tem seu tempo
firme ou nublado
limpo ou nuveado.
Não me preocupo com o que já era para ter chegado
mas com o que está para chegar.
No meio do nada
recobro um verde-esperança
vindo de um sonho azul-céu
trazendo a luz que volta, mansa-branca
dentro dos seus olhos castanhos de mel.


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terça-feira, 25 de maio de 2010

3º Edição do Sarau Cidade Atravessa


Clóvis Bulcão apresenta o evento.


Marcio Rufino


Leandro Jardim


Leonardo Fucks e Víctor


Valéria Martins


Aderaldo Luciano


Beatriz Bojo


Reynaldo Bessa


Luiz Roberto Guedes


Marcio-André, o poeta radioativo


Guilherme Zarvos é entrevistado por Paulo Scott


Na noite de 21 de maio de 2010 se deu na Livraria da Travessa, na Travessa do Ouvidor, no Centro do Rio de Janeiro, a terceira edição do sarau “Cidade Atravessa”. Uma parceria entre a Confraria do Vento e a Casa das Rosas. Liderado sempre pelos maravilhosos Marcio-André - o poeta radioativo -, Reinaldo Polito, Victor Paes e Claudio Marcondes e contando sempre com a charmosa apresentação do escritor Clóvis Bulcão, o evento foi um grande sucesso no qual tive a honra de participar – junto com outros poetas e artistas como Beatriz Bojo, Valéria Martins, Reinaldo Bessa, Leandro Jardim, Aderaldo Luciano, Luiz Roberto Guedes, Alex Hamburguer, Leonardo Fucks, entre outros – representando a poesia da baixada fluminense.

Abri o sarau com a leitura do manifesto do meu grupo literário, o Pó de Poesia de autoria da poeta e professora de literatura Ivone Landim. Imediatamente li dois poemas de minha autoria, sendo seguido pelo outros artistas e poetas já citados. Além da leitura de poemas e lançamento de livros de alguns poetas presentes, o sarau contou com a exibição dos curtas “Cidade-Reposta” do irrequieto poeta multimídia Marcio-André e “Janelas” de Marcela França. Uma bela entrevista do poeta Paulo Scott com o escritor e agitador cultural Guilherme Zarvos encerrou a noite.

É muito importante para mim como produtor de cultura participar de eventos como esses e interagir com companheiros de ofício de outras partes do país e do mundo. Para Marcio-André e os amigos da Confraria do Vento e da Casa das Rosas todo o meu agradecimento, meu abraço e meu carinho. Salve.


Assista o vídeo


domingo, 9 de maio de 2010

Gêmeas Amoroso-Vitelinas



Univitelinos – adj. Diz-se de gêmeos verdadeiros, gerados de um só ovo.

Maria Isabel ficou muito deprimida quando soube que não podia ser mãe. Seu grande sonho era ser mãe de duas gêmeas. Depois de semanas e semanas de muitas lágrimas e depressões, cansou de tanta tristeza e decidiu com o marido:

- Já que não posso parir minhas gêmeas com o ventre, vou parir com o coração!

No dia seguinte foi de braço dado com o marido visitar o orfanato mais próximo de casa. Duas recém-nascidas, cada uma de uma mãe biológica diferente, haviam acabado de chegar naquele mesmo momento. Maria Isabel quis ir vê-las. Uma era negrinha como a noite estrelada e os olhos pretinhos como dois pedacinhos de carvão. A outra era loirinha da pele alva e dos olhinhos azuis como o céu. Maria Isabel quando as viu pela primeira vez, percebeu uma coisa que ninguém havia notado nos bebês. As duas tinham o mesmo par de olhos arregalados, curiosos. Os mesmos olhos que apesar de serem de cores diferentes tinham o mesmo abuso, a mesma ousadia, a mesma má-criação de quem quer subir em todos os telhados e se infiltrar em todos os buracos possíveis. Nas duas boquinhas o mesmo sorriso livre de bacante. A mesma boquinha de Eva sem culpa. De Eva que além de comer o fruto proibido, ainda lança uma gostosa e inocente careta para o divino.

Diante daquelas duas criaturinhas, o coração de Maria Isabel se enterneceu. Ela sentiu uma sensação amorosamente estranha. Seus olhos em lágrimas denunciavam a chegada de duas velhas amigas, duas irmãs que uma vez nunca se vendo, já se sentiam invisivelmente. Maria Isabel sentia uma dor interior absurda. A dor imensa dos que cuja única condição da vida é amar incondicionalmente até o que se pensa não existir. Maria Isabel havia acabado de parir suas gêmeas com a alma.

Os quatro bracinhos e as quatro perninhas profanas rebolavam fogosas e excitadas no ar e abriam-se imensas para receber o amor daquela mulher. Um colorido se fez na vida de Maria Isabel que cuidou daquelas duas como cuidava do menino Jesus quando era menina; e ela fazia de conta que era a Nossa Senhora em época de natal, roubando a imagem do santinho da árvore para brincar com ele.

E esse mesmo amor transbordou entre as duas e passava de uma para outra como as águas de um rio entre duas pedras. Assim, Andréia e Adriana cresceram. Unidas em sentimento, amizade e carinho, mas também em dor, sofrimento e desilusão. No ato de comerem juntas, de estudarem juntas, de brincarem juntas. De uma defender a outra nas brigas; de dividirem as mesmas alegrias. O primeiro namorado; O sem vergonha do Carlinhos que queria namorar as duas ao mesmo tempo e das duas acabou apanhando, pois essas duas dividiam também os ódios. A dor de ter enterrado Maria Isabel, vencida pelo câncer. Os casamentos, os filhos e elas sempre juntas; até ficarem velhinhas. Eram mesmo gêmeas amoroso-vitelinas, pois foram geradas pelo mesmo ovo do coração.


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sábado, 24 de abril de 2010

Rumo à solidão


Não diga o que eu devia fazer.
Só escute, se for capaz, as minhas palavras mudas.
Ouça, se for capaz, a dor que eu sinto sem gemer.
Sinta, se for capaz, o segredo que eu tenho sem nunca sabê-lo.

Não diga que tudo irá dar certo
sem antes me apontar o caminho mais curto para a solidão
e não diga
que a solidão não existe,
pois é, na verdade,
o próprio caminho a se trilhar.

Eu já não tenho mais nada a fazer
a não ser atravessar essas portas fechadas
e chegar ao outro lado
com aquela falsa sensação de vitória.

E não há uma vitória sem uma gota de lágrima
mesmo que seja invisível.
E não há uma gota de lágrima sem uma dor
mesmo que seja fraca.
E não há uma dor sem uma mágoa
mesmo que seja esperada.
E não há mágoa sem a morte de qualquer coisa que se amava
mesmo que não seja física.

E o meu próprio-amor-próprio
é a invisível e fraca espera do não físico
do abstrato e diluído no espaço
que está por trás daquilo que é sólido.

E o que é a solidão
a não ser esse ser não sólido
que vive a nos espreitar
num canto da sala?

Mas não há um amor-próprio sem um egoísmo
mesmo que seja domado.
Mas não um egoísmo sem uma raiva
mesmo que seja calma.
Mas não há uma raiva sem um desejo de destruição,
mesmo que seja tolerante
de tudo aquilo que é humano.

E a minha tristeza
é o tolerante e calmo domínio
que tenho sobre tudo aquilo
que é desumano em mim.

E o que é o caminho
a não ser essa estrada insegura e torta
sobre o tapete colorido da sala?

Não esperava essa agressividade
em tua cara.
Não contava com esse pouco caso
em teus olhos.
Não aguardava essa arrogância
em tua casa.
Não pressentia essa decepção
em meu peito.

Agora deixe despedir-me de tudo aquilo
que é vibrante e claro em sua essência
para que não haja nenhuma saudade
do que eu não tenha visto nesta descendência.

E assim sigo rumo à solidão
que não é depressão
e sim o som de uma densa música
e seu refrão.
E assim sigo rumo à solidão
que não é suicídio
e sim a esperança de uma longa felicidade
e seu início.



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sexta-feira, 26 de março de 2010

Sarau Cidade Atravessa


Casé Lontra Marques, Paulo Scott, Tania Alice, Victor Paes, Andréa Stark, Marcio-André, Wladimir Cazé, Alexandre Moraes e Márcio Rufino.


Victor Paes, Clóvis Bulcão e Marcio-André



Suzana Vargas e Clóvis Bulcão


Na noite de sexta-feira do dia 19 de março de 2010, aconteceu na livraria da Travessa na Travessa do Ouvidor no Centro o sarau Cidade Atravessa. O Sarau contou com o lançamento do livro Macromundo de Wladimir Cazé e apresentção do poeta Clóvis Bulcão. O charmoso público da livraria pôde se deliciar com performances dos poetas Tania Alice, Suzana Vargas, Marcio-André, Victor Paes, Case Lontra Marques, Paulo Scott, Leandro Jardim e do próprio Wladimir Cazé. Eu estive lá e pude presenciar esse histórico evento cultural. Como podem ver nas fotos acima.

sábado, 13 de março de 2010

A Hora Livre


Talvez eu encontre uma hora livre
Para ser o que eu quero e fugir do mundo
Para me refugiar de tudo que me corrige
Até mesmo de um falso ensejo profundo.

Talvez eu encontre uma hora livre
Para me livrar da culpa de algum pecado
Que minha consciência quer e exige
Até de um delito que eu não tenha sonhado.

Talvez eu vire um semideus sensual
Que remova céus e montanhas
Em busca de uma alternativa natural
De lidar com minhas forças estranhas.

Talvez eu encontre uma hora livre
Num dado momento. Num dado instante
Num dado dia que a vida permite
Seja essa hora minha melhor amante.

Talvez eu vire o herói de uma história
Que, na verdade, ninguém quer contar.
Ou que seja publicado num livro de memórias
Livro este que ninguém quer comprar.

Ninguém quer conviver
Com seus horrores, anseios e lamentaçãos.
Ninguém quer reconhecer
Seus crimes, delírios e omissões.

Com certeza eu fugirei do futuro
Ou de qualquer outra coisa que eu tenha passado
Nas ramagens dessa opressiva bonança carmim.

Rubra da cor da minha centelha
Que gera todo tipo de incerteza
E eu beijarei todas as costas que estiverem voltadas para mim.

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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Identidade

Se alguém perguntar
Quem eu sou
Diga que sou uma criatura quase humana
Algo entre religioso e monstruoso
Um simples moço.

Se alguém perguntar
Em que dia nasci
Diga que foi num dia
Em que Deus, muito estressado,
Com tanta coisa lhe enchendo o saco
Fez com que minha mãe
Bota-se pra fora
Algo que não fosse nem pergunta e nem resposta
Uma complicada incógnita.

Se alguém perguntar
Qual é a minha cor
Diga que é a do mundo inteiro.
Pintada por festas, sofrimentos de amor,
Muitas revelações e alguns segredos.

Se alguém perguntar
Qual é a minha
Curto carne, frango e sardinha
Ou qualquer outra coisa que esteja na panela.
Curto também pessoas
Muito além do que elas têm entre as pernas.

Se alguém perguntar
Onde moro
Diga que por aí
Chegando de repente
Sem hora pra partir.

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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O morro, a igreja e as crianças


Era como se fosse uma miragem
Era como se fosse além da paisagem
O enorme morro verdejante
Que ficava na frente da igreja delirante
Crianças produziam cambalhotas
Em desesperadas e dionisíacas galhofas.

O sol escondia a cara atrás da nuvem preta.
Depois a mostrava por baixo da nuvem fazendo careta.
Era como num filme de faroeste.
A gente chegava numa romaria
Numa viva imagem de tela campestre
Quando começava a adoecer o dia.

Os meninos ansiosos sufocavam o grilo
Na mesma mão que perseguia a borboleta.
Os olhos avistavam a enorme cruz
Que abrigava o pombo negro
Que descansava impávido em cima da igreja.

Mas as cambalhotas, as gritarias, as correrias,
O futebol, as bagunças
Não se podia pisar no capim escandalosamente verde
Apesar da grama querer ser amada pelos pés nus das crianças
E uma menina comia assaí como se fosse sorvete.

O urubu dançava no ar seu vôo solo
Profetizando, encenando e anunciando intensa chuva
Algo em minha natureza pedia colo.
Outra menina andava pra traz por todo o quarteirão da rua.

O urubu
O ourobú
O ouro burro que nascia das palavras do garoto
Que insistia em pular com um só pé
Depois lançava escandalosos arrotos
Por cima da oferenda de candomblé
A oferenda servida no chão da esquina
O banquete exposto no chão da encruzilhada
É a revelação da multiplicidade divina
De que Deus não diversifica só as massas.

O sonho se estabelece no agora
De um instante que brincava com seu centro
A menina me pede pra brincar lá fora
E eu digo à ela que lá fora é aqui dentro.

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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O Cravo Nú


Por que tua flor rebelde
Insiste em desabrochar na minha frente?
Acariciarei-te. Oh, flor
Para te deleitares com meus mimos
Lamberei tuas pétalas
Apertarei os teus espinhos
Eu ousado zangão
Beberei teu doce-amargo néctar
E te caberei inteira dentro de mim
Até morreres sufocada
Com o calor do meu desejo
Para que assim os campos
Nos libertem e nos mostrem
A verdadeira face da vida
Pois tudo aquilo que a princípio
Não se identifica, com o tempo
Vai se deixando revelar aos poucos
Mesmo que involuntariamente.

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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Contrários

A letra dessa música do Pe Fabio de Mello mexeu muito comigo:

Contrários
Pe. Fábio de Melo
Composição: Fábio de Melo

Só quem já provou a dor
Quem sofreu, se amargurou
Viu a cruz e a vida em tons reais
Quem no certo procurou
Mas no errado se perdeu
Precisou saber recomeçar

Só quem já perdeu na vida sabe o que é ganhar
Porque encontrou na derrota o motivo para lutar
E assim viu no outono a primavera
Descobriu que é no conflito que a vida faz crescer

Que o verso tem reverso
Que o direito tem avesso
Que o de graça tem seu preço
Que a vida tem contrários
E a saudade é um lugar
Que só chega quem amou
E que o ódio é uma forma tão estranha de amar

Que o perto tem distâncias
Que esquerdo tem direito
Que a resposta tem pergunta
E o problema solução
E que o amor começa aqui
No contrário que há em mim
E a sombra só existe quando brilha alguma luz.

Só quem soube duvidar
Pôde enfim acreditar
Viu sem ver e amou sem aprisionar
Quem no pouco se encontrou
Aprendeu multiplicar
Descobriu o dom de eternizar

Só quem perdoou na vida sabe o que é amar
Porque aprendeu que o amor só é amor
Se já provou alguma dor
E assim viu grandeza na miséria
Descobriu que é no limite
Que o amor pode nascer.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O Homem-Peixe


Pulou para fora do aquário
Rastejou-se no carpete
Procurou um mar imaginário
Sem que ninguém soubesse.

Rolou da escada
Querendo alcançar a rua
Chegou até a escada
Saiu embaixo da chuva.

Seguiu pegadas
Deixou vestígios
Descamou-se em estradas
De delírio.

Atravessou pistas
Chafurdou na lama
Prejudicou as vistas
Machucou as barbatanas.

Mergulhou em poças
Refugiou-se no cais do porto
Esbarrou em louças
Sem nenhum conforto.

Buscou um barraco
Um pedaço de vitirne
Uma peça de teatro
Um roteiro de filme.

Um conto
Uma canção
Ficou sem ponto
Sem noção.

Nada encontrou
Nem mesmo um tema
Só se encaixou
Neste poema.

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Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

Soterrado


A fúria do mundo explode diante de mim. É duro ver a terra deixar de ser a mãe conformada, resignada; e passar a ser a fêmea irada, revoltada em sua razão. Puta contestadora, indgnada a se rebelar, a esbravejar contra a exploração abusiva de seu corpo. E nós não passamos de vírus, de bactérias amargando sua auto-defesa.

É bom se sentir sozinho na Baixada Fluminense, pois assim quando ela estiver submergida sob as águas das enchentes - Atlântica contemporaneizada entre o teatro do absurdo e o humor negro - o controle de mim mesmo que implica na cruel sensação de não ter feito o suficiente, de não ter amado o suficiente vai doer menos. Assim como vai doer menos a descoberta de que não se é parte do mundo e sim o próprio mundo.

Os livros soterram palavras, pensamentos e sentimentos, mas a natureza soterra pessoas e livros. As casas viram capas de livros semi-abertos sobre o chão, desabados sobre histórias inacabadas; tramas não concluídas; personagens que não se definiram.

Quantas vezes fiz amor com meu travesseiro para calar o faminto felino predador que tentava sair de dentro do meu coração-jaula e devorar sua petitosa presa sobre as poças d'água, sobre os pântanos, sob a chuva. Quantas vezes violentei meu travesseiro para no fim acreditar que era um passarinho a se equilibrar sobre o mais leve graveto, na mais alta abóbada de uma gigantesca árvore qualquer na esperança de poder presenciar melhor a promiscuidade dos relâmpagos e das trovoadas. Tudo isso antes das catástrofes fugirem das telonas de cinema norte-americano e me ameaçarem. Mas agora lembro que não é a todos que meus pensamentos e sentimentos interessam.

Os morros-bibliotecas-encostas desabam sobre casas-livros-enciclopédias onde vivem pessoas-sentimentos-pensamentos-idéias.

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